Foi na família, que Paulo aprendeu o amor a Jesus
Crucificado e aos crucificados. No seu lar, onde a fé tudo permitia superar, a
mãe de Paulo adquire uma importância muito especial no seu crescimento
religioso e espiritual. Ela tinha uma terna e profunda devoção a Cristo
sofredor e crucificado, devoção que procurou infundir nos seus filhos. E assim,
quando alguém tinha que sofrer ou alguma coisa não lhe agradava, tomava o
Crucifixo e dizia-lhe: “Olha, filho, quanto sofreu Jesus por ti!”.
A semente lançada transformou a vida e a
espiritualidade de Paulo. Será Paulo que mais tarde afirmará: “Para fazer
oração basta tomar um crucifixo nas mãos”. A Paixão de Jesus será a força
motriz que orientará toda a vida espiritual de Paulo e dos seus seguidores, a
Família Passionista.
Os Passionistas comprometem-se, através de um voto
especial, a promover a Memória da Paixão de Cristo (Memória Passionis) com a
palavra e com a própria vida. Procuram fazê-lo, sobretudo, com a pregação e com
a sua presença junto dos pobres e dos marginalizados por qualquer razão, os
"crucificados" de hoje.
Cristo
Crucificado
A grande inspiração de Paulo da Cruz, que é a única
força motora que lhe teceu e configurou a fisionomia, foi o lema: PREGAR AO
MUNDO JESUS CRUCIFICADO. A vida dele, as suas pregações, os seus escritos
aparecem impregnados do amor a Cristo Crucificado e de ânsias por atrair as
pessoas aos pés do Crucifixo.
A espiritualidade específica da Família Passionista
é a conformidade a Cristo Crucificado, ou seja, “eu vivo, mas já não sou eu, é
Cristo que vive em” (cf. Gl 2,20), conforme o ensinamento do Fundador, que
falava: “na Paixão de Jesus Cristo está tudo”; “esse é o caminho mais breve
para se chegar à perfeição”; “no mar da Paixão de Cristo se recolhem às pérolas
das virtudes”; “a meditação da Paixão de Jesus Cristo constitui o verdadeiro
tesouro de que nos fala o Evangelho (Mt 13-14)”; “na meditação da Paixão de
Cristo está à escola das virtudes, o alento nos trabalhos, a consolação nas
aflições, o incentivo para todo o heroísmo, o bálsamo para todas as virtudes, o
alimento da sólida devoção, o forno do divino amor”.
Os Passionistas fazem voto de viver e anunciar esta
espiritualidade, em conformidade com o registrado nas suas Constituições: “Por
este voto nos empenhamos em viver e promover a memória da Paixão de Cristo por
palavras e obras, para aumentar, assim, a consciência do seu significado e
valor para cada homem e para a vida do mundo. Por este vínculo, a Congregação
toma o seu lugar na Igreja e se consagra plenamente à sua missão. À luz deste
vínculo vivemos os conselhos evangélicos e procuramos realizar este voto na
vida diária” (Constituições, 1984, n. 6).
Fazer
memória da Paixão de Jesus
Paulo da Cruz apresenta a Congregação Passionista,
como desejada por Deus, para suscitar na Igreja o despertar da Memória da
Paixão de Jesus e assegurar a renovação da vida cristã. “Esquecer a Paixão,
Morte e Ressurreição de Jesus é privar o cristão daquilo que dá sentido à sua
vida e também daquilo que deve marcar o estilo do seu viver”.
Para Paulo da Cruz, “fazer memória” significa ver,
na morte, a Páscoa. Não colocar a Páscoa depois da morte como que separadas ou
aparecendo uma após a outra, sucessivamente. Não se deve entender a morte como
algo superado pela Páscoa. Por outras palavras: a Páscoa não é a superação da
morte, a Páscoa não deixa a morte "para trás" como algo superado, mas
é a revelação, a manifestação da morte. Páscoa é descobrir a Vida que está no
interior da morte.
Descobrir na morte a Páscoa, como plenitude de Vida,
como Vida definitivamente instalada na existência. Descobrir na plenitude da
morte a plenitude da Vida. Algo assim como na Primavera: abrem-se os botões e
entregam a vida.
A Vida é o que de melhor alguém pode dar a seu
semelhante. Quando alguém é capaz de dar a vida por seus semelhantes, é sinal
de que vive em plenitude. Assim que, saber ler tudo isso na morte de Jesus, é
descobrir a vida pascal. O Crucificado, com efeito, é o Ressuscitado. Daí que
“fazer memória” da morte de Jesus é aproximar-se da Cruz com um olhar
contemplativo, que é o da fé e o do coração. Da fé: só com ele, penetra-se no
sentido mesmo do mistério da morte que contém a Vida. Do coração: é o olhar que
tem a capacidade de deixar-se “tocar”.
Na prática, fazer memória é identificar-se com
Cristo e com Cristo Crucificado. Fazer memória da Paixão de Jesus significa
manifestar dinamicamente, com o nosso agir diário, que acreditamos no mistério
do Amor, da entrega do Filho de Deus pela salvação do homem, e porque
acreditamos na sua obra salvífica e sabemos que permanece vivo na Sua Igreja,
recordando-O, fazendo d'Ele memória, procuramos ser hoje como Ele foi outrora.
Assim, “fazer memória” da Paixão de Jesus leva-nos
a assumir as atitudes de Jesus, numa tentativa constante de “responder, como Jesus,
às novas situações e circunstâncias do mundo que nos rodeia, a partir de uma
íntima vivência de Deus”. Paulo da Cruz, sugere um método fácil e eficaz de
meditar sobre a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo: “Aos pobres
camponeses que não podem fazer longas meditações, os Religiosos Passionistas
ensinarão o modo de fazer, durante o dia, breves afetos ou jaculatórias a Jesus
que padece, segundo as circunstâncias, sugerindo-lhes um método fácil, simples
e devoto, animando-os a que façam tudo por amor e em memória do que Jesus fez e
sofreu por nosso amor”.
Há, portanto, um primeiro caminho a percorrer por
quem deseje iniciar-se na meditação sobre a Paixão de Jesus Cristo: fazer,
durante o dia, breves afetos por meio de orações, chamadas jaculatórias.
Criar-se-á um ambiente propício para uma frutuosa meditação sobre a Paixão de
Jesus.
Os Missionários Passionistas, segundo estas
medicações, incentivaram, ao longo dos tempos, esta prática simples de meditar
sobre a Paixão do Senhor.
As jaculatórias mais freqüentes, por eles ensinadas,
são:
· Ao nome
de Jesus todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra e toda língua
proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para a Glória de Deus Pai. Amém;
· A
Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja sempre gravada nos nossos corações;
· Senhor,
eu vos agradeço por terdes morrido na Cruz por meu amor. Meu Jesus
Misericórdia;
· Bendita
seja à hora ó Maria em que Jesus morreu na Cruz por nós. Meus Jesus na última
hora lembrai-vos de nós;
· Em meu
peito e minha mente, imprimi Mãe dolorosa, as chagas de Jesus Crucificado.
· Eterno
Pai, eu Vos ofereço o Sangue Preciosíssimo de Jesus Cristo, em expiação dos
meus pecados, em sufrágio das almas do Purgatório e pelas necessidades da Santa
Igreja".
Ultrapassada esta etapa dos simples afetos e
jaculatórias, vem o estudo e a meditação das virtudes de Jesus Cristo na Sua
Paixão. Para S. Paulo da Cruz, meditar a Paixão de Jesus “não é um ato de pura
inteligência, de imaginação ou de simples afetos. É alguma coisa que abrange toda
a pessoa, orientando-a para a Pessoa Divina de Jesus com alegre gratidão,
impelindo-a a 'praticar os Seus divinos costumes'; a 'copiar em si' as virtudes
do modelo divino - Cristo Jesus - e a viver do Seu Santo Espírito”. Meditar
sobre a Paixão de Jesus deve, portanto, levar-nos à identificação com Cristo.
Em todos os acontecimentos da Igreja está presente
a Virgem Maria. Sua maternal proteção bem aparece na vida e na obra de São
Paulo da Cruz, diversas vezes recebeu dela mensagens em torno da fundação da
Congregação. Absorto em profunda oração, “viu-a revestida de preto, tendo no
peito um coração com a cruz, os cravos e as palavras Paixão de Jesus Cristo; ao
mesmo tempo lhe sugeriu: ‘Este é o traje e distintivo do Instituto que hás de
fundar, destinado a propagar no mundo a memória de quanto sofreu meu filho para
salvá-lo’”.
Maria
Santíssima na Espiritualidade Passionista
A celebração de Nossa Senhora das Dores oferece a
todos os da família Passionistas a oportunidade de viver, com a Mãe das Dores
uma participação mais profunda do mistério da Paixão de Cristo e assim reviver o
espírito de São Paulo da Cruz que, tanto em sua pessoal espiritualidade como em
seu apostolado, ou mesmo em suas cartas e pregações, venerou grandemente a
Santíssima Virgem como associada à Paixão de seu Filho.
Nas Missões, meditando com os fiéis na Paixão de
Jesus, fazia freqüentes referências às dores da Virgem Maria, excitando no
auditório vivas emoções. Costumava dizer: “Lembremo-nos das dores da Mãe de
Jesus que ela se há de lembrar de nós na hora de nossa morte”; “Do mar das
dores de Maria chega-se ao oceano infinito do amor de Deus”. E recomendava:
“Sempre que virmos à imagem de Jesus Crucificado, lembremo-nos de que, aos pés
da Cruz, está a sua Mãe...”. Com a meditação terço, as Sete dores de Maria e
jaculatórias.