quarta-feira, 23 de julho de 2014

Conhecendo Paulo da Cruz

Foi na família, que Paulo aprendeu o amor a Jesus Crucificado e aos crucificados. No seu lar, onde a fé tudo permitia superar, a mãe de Paulo adquire uma importância muito especial no seu crescimento religioso e espiritual. Ela tinha uma terna e profunda devoção a Cristo sofredor e crucificado, devoção que procurou infundir nos seus filhos. E assim, quando alguém tinha que sofrer ou alguma coisa não lhe agradava, tomava o Crucifixo e dizia-lhe: “Olha, filho, quanto sofreu Jesus por ti!”.
A semente lançada transformou a vida e a espiritualidade de Paulo. Será Paulo que mais tarde afirmará: “Para fazer oração basta tomar um crucifixo nas mãos”. A Paixão de Jesus será a força motriz que orientará toda a vida espiritual de Paulo e dos seus seguidores, a Família Passionista.

Os Passionistas comprometem-se, através de um voto especial, a promover a Memória da Paixão de Cristo (Memória Passionis) com a palavra e com a própria vida. Procuram fazê-lo, sobretudo, com a pregação e com a sua presença junto dos pobres e dos marginalizados por qualquer razão, os "crucificados" de hoje.

Cristo Crucificado

A grande inspiração de Paulo da Cruz, que é a única força motora que lhe teceu e configurou a fisionomia, foi o lema: PREGAR AO MUNDO JESUS CRUCIFICADO. A vida dele, as suas pregações, os seus escritos aparecem impregnados do amor a Cristo Crucificado e de ânsias por atrair as pessoas aos pés do Crucifixo.

A espiritualidade específica da Família Passionista é a conformidade a Cristo Crucificado, ou seja, “eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em” (cf. Gl 2,20), conforme o ensinamento do Fundador, que falava: “na Paixão de Jesus Cristo está tudo”; “esse é o caminho mais breve para se chegar à perfeição”; “no mar da Paixão de Cristo se recolhem às pérolas das virtudes”; “a meditação da Paixão de Jesus Cristo constitui o verdadeiro tesouro de que nos fala o Evangelho (Mt 13-14)”; “na meditação da Paixão de Cristo está à escola das virtudes, o alento nos trabalhos, a consolação nas aflições, o incentivo para todo o heroísmo, o bálsamo para todas as virtudes, o alimento da sólida devoção, o forno do divino amor”.
Os Passionistas fazem voto de viver e anunciar esta espiritualidade, em conformidade com o registrado nas suas Constituições: “Por este voto nos empenhamos em viver e promover a memória da Paixão de Cristo por palavras e obras, para aumentar, assim, a consciência do seu significado e valor para cada homem e para a vida do mundo. Por este vínculo, a Congregação toma o seu lugar na Igreja e se consagra plenamente à sua missão. À luz deste vínculo vivemos os conselhos evangélicos e procuramos realizar este voto na vida diária” (Constituições, 1984, n. 6).

Fazer memória da Paixão de Jesus

Paulo da Cruz apresenta a Congregação Passionista, como desejada por Deus, para suscitar na Igreja o despertar da Memória da Paixão de Jesus e assegurar a renovação da vida cristã. “Esquecer a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus é privar o cristão daquilo que dá sentido à sua vida e também daquilo que deve marcar o estilo do seu viver”.

Para Paulo da Cruz, “fazer memória” significa ver, na morte, a Páscoa. Não colocar a Páscoa depois da morte como que separadas ou aparecendo uma após a outra, sucessivamente. Não se deve entender a morte como algo superado pela Páscoa. Por outras palavras: a Páscoa não é a superação da morte, a Páscoa não deixa a morte "para trás" como algo superado, mas é a revelação, a manifestação da morte. Páscoa é descobrir a Vida que está no interior da morte.
Descobrir na morte a Páscoa, como plenitude de Vida, como Vida definitivamente instalada na existência. Descobrir na plenitude da morte a plenitude da Vida. Algo assim como na Primavera: abrem-se os botões e entregam a vida.

A Vida é o que de melhor alguém pode dar a seu semelhante. Quando alguém é capaz de dar a vida por seus semelhantes, é sinal de que vive em plenitude. Assim que, saber ler tudo isso na morte de Jesus, é descobrir a vida pascal. O Crucificado, com efeito, é o Ressuscitado. Daí que “fazer memória” da morte de Jesus é aproximar-se da Cruz com um olhar contemplativo, que é o da fé e o do coração. Da fé: só com ele, penetra-se no sentido mesmo do mistério da morte que contém a Vida. Do coração: é o olhar que tem a capacidade de deixar-se “tocar”.
Na prática, fazer memória é identificar-se com Cristo e com Cristo Crucificado. Fazer memória da Paixão de Jesus significa manifestar dinamicamente, com o nosso agir diário, que acreditamos no mistério do Amor, da entrega do Filho de Deus pela salvação do homem, e porque acreditamos na sua obra salvífica e sabemos que permanece vivo na Sua Igreja, recordando-O, fazendo d'Ele memória, procuramos ser hoje como Ele foi outrora.

Assim, “fazer memória” da Paixão de Jesus leva-nos a assumir as atitudes de Jesus, numa tentativa constante de “responder, como Jesus, às novas situações e circunstâncias do mundo que nos rodeia, a partir de uma íntima vivência de Deus”. Paulo da Cruz, sugere um método fácil e eficaz de meditar sobre a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo: “Aos pobres camponeses que não podem fazer longas meditações, os Religiosos Passionistas ensinarão o modo de fazer, durante o dia, breves afetos ou jaculatórias a Jesus que padece, segundo as circunstâncias, sugerindo-lhes um método fácil, simples e devoto, animando-os a que façam tudo por amor e em memória do que Jesus fez e sofreu por nosso amor”.
Há, portanto, um primeiro caminho a percorrer por quem deseje iniciar-se na meditação sobre a Paixão de Jesus Cristo: fazer, durante o dia, breves afetos por meio de orações, chamadas jaculatórias. Criar-se-á um ambiente propício para uma frutuosa meditação sobre a Paixão de Jesus.
Os Missionários Passionistas, segundo estas medicações, incentivaram, ao longo dos tempos, esta prática simples de meditar sobre a Paixão do Senhor. 


As jaculatórias mais freqüentes, por eles ensinadas, são:
· Ao nome de Jesus todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra e toda língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para a Glória de Deus Pai. Amém;
· A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja sempre gravada nos nossos corações;
· Senhor, eu vos agradeço por terdes morrido na Cruz por meu amor. Meu Jesus Misericórdia;
· Bendita seja à hora ó Maria em que Jesus morreu na Cruz por nós. Meus Jesus na última hora lembrai-vos de nós;
· Em meu peito e minha mente, imprimi Mãe dolorosa, as chagas de Jesus Crucificado.
· Eterno Pai, eu Vos ofereço o Sangue Preciosíssimo de Jesus Cristo, em expiação dos meus pecados, em sufrágio das almas do Purgatório e pelas necessidades da Santa Igreja".
Ultrapassada esta etapa dos simples afetos e jaculatórias, vem o estudo e a meditação das virtudes de Jesus Cristo na Sua Paixão. Para S. Paulo da Cruz, meditar a Paixão de Jesus “não é um ato de pura inteligência, de imaginação ou de simples afetos. É alguma coisa que abrange toda a pessoa, orientando-a para a Pessoa Divina de Jesus com alegre gratidão, impelindo-a a 'praticar os Seus divinos costumes'; a 'copiar em si' as virtudes do modelo divino - Cristo Jesus - e a viver do Seu Santo Espírito”. Meditar sobre a Paixão de Jesus deve, portanto, levar-nos à identificação com Cristo.

Em todos os acontecimentos da Igreja está presente a Virgem Maria. Sua maternal proteção bem aparece na vida e na obra de São Paulo da Cruz, diversas vezes recebeu dela mensagens em torno da fundação da Congregação. Absorto em profunda oração, “viu-a revestida de preto, tendo no peito um coração com a cruz, os cravos e as palavras Paixão de Jesus Cristo; ao mesmo tempo lhe sugeriu: ‘Este é o traje e distintivo do Instituto que hás de fundar, destinado a propagar no mundo a memória de quanto sofreu meu filho para salvá-lo’”.


Maria Santíssima na Espiritualidade Passionista

             Paulo venerava Maria Santíssima especialmente sob o título “das Dores”, por ter ela reproduzido em seu imaculado coração todas as chagas e martírios de seu bendito Filho. A vida de Maria Santíssima foi uma dolorosa caminhada em direção ao Calvário. Mas, assistindo à agonia de Jesus, perfez com ele uma só vitima, imolada no mesmo altar da Cruz para a redenção da humanidade. No auge de seu martírio, na hora da mais angustiante desolação, Jesus lhe entregou o discípulo amado que representava todos os redimidos, dizendo-lhe: “Eis aí o teu filho!”. E a João disse: “Eis aí a tua Mãe!”. E o discípulo a recebeu em sua casa. Assim Paulo da Cruz acolheu a Virgem Maria em toda extensão de sua vida, por meio de uma sincera e filial devoção. O 38º Capítulo Geral da Congregação, realizado em 1964, interpretando o sentimento tradicional Passionista, aclamou por unanimidade Nossa Senhora das Dores como principal padroeira da Congregação Passionista.




A celebração de Nossa Senhora das Dores oferece a todos os da família Passionistas a oportunidade de viver, com a Mãe das Dores uma participação mais profunda do mistério da Paixão de Cristo e assim reviver o espírito de São Paulo da Cruz que, tanto em sua pessoal espiritualidade como em seu apostolado, ou mesmo em suas cartas e pregações, venerou grandemente a Santíssima Virgem como associada à Paixão de seu Filho.


Nas Missões, meditando com os fiéis na Paixão de Jesus, fazia freqüentes referências às dores da Virgem Maria, excitando no auditório vivas emoções. Costumava dizer: “Lembremo-nos das dores da Mãe de Jesus que ela se há de lembrar de nós na hora de nossa morte”; “Do mar das dores de Maria chega-se ao oceano infinito do amor de Deus”. E recomendava: “Sempre que virmos à imagem de Jesus Crucificado, lembremo-nos de que, aos pés da Cruz, está a sua Mãe...”. Com a meditação terço, as Sete dores de Maria e jaculatórias.

São Paulo da Cruz

Francisco Danei Massari nasceu em Ovada, Itália, aos 3 de Janeiro de 1694, tendo-se mudado, mais tarde, para Castellazzo-Bormida, não muito longe da sua terra natal. No dia da profissão religiosa, conforme o costume do tempo, trocou o nome de batismo pelo de Paulo da Cruz. O ambiente familiar de Paulo era sereno, mas também austero, fosse pelas frequentes visitas da morte, fosse pelo tipo de educação. Através de palavras e exemplos, os pais estimulavam os filhos à uma profunda fé em Deus, à um grande amor a Jesus Crucificado, o ideal dos santos, a retidão de vida e a solidariedade para com os pobres.

Com o deslocamento frequente de sua família (por questões econômicas e políticas), Paulo ficava impossibilitado de frequentar as aulas com regularidade. De certo, que isto contribuía para ampliar o contato com várias regiões e cidades, tornando-o, desta forma, uma pessoa de caráter aberto, capaz de valorizar as realidades das diferentes "nacionalidades" ou regiões, ajudando-o, de forma especial, a aproximar-se, no futuro, das pessoas de qualquer nacionalidade ou classe social. Sua mãe ensinou-o a ver na Paixão de Jesus Cristo a força para superar todas as provas e dificuldades.

Assim, enamorado de Jesus Crucificado desde criança, quis entregar-Lhe toda a sua vida. Ouvindo a pregação de um sacerdote, o Senhor iluminou-o relativamente ao amor de Cristo Crucificado: foi o momento que ele próprio chamou de "conversão". Por volta de 1715-1716, desejoso de servir a Cristo, apresentou-se em Veneza e alistou-se no exército. Queria lutar contra os turcos, que então ameaçavam a Europa, com mística de cruzado. Enquanto adorava o Santíssimo Sacramento, numa Igreja, compreendeu que não era aquela a sua vocação. Abandonou a carreira militar, serviu durante alguns meses uma família e regressou a casa. Embora seu tio sacerdote prometesse deixar-lhe toda a sua herança no caso de vir a casar, Paulo renunciou à oferta.

No verão de 1720, após receber a comunhão na Igreja dos capuchinhos, retornando para casa, tem uma forte sensação de estar vestido de preto, com o nome de Jesus e a cruz branca no peito. Segundo um testemunho, uma aparição da Virgem Maria permitiu-lhe conhecer o hábito, o emblema e o estilo de vida do futuro Instituto, que teria sempre Jesus Cristo Crucificado como centro. Neste período, Paulo já tem em mente que deveria viver na solidão e pobreza, reunir companheiros e fundar uma Congregação. Seus membros deveriam usar uma túnica preta para recordar a Paixão e Morte de Jesus.


A partir desse ano, empreendeu o difícil caminho da fundação. Viveu a princípio como ermitão em Castellazzo e a pedido de Mons. Gattinara, Bispo de Alexandria, aos domingos, dava catecismo para as crianças. O mesmo bispo, revestiu-o com o hábito da Paixão, aos 22 de novembro de 1720. Passou 40 dias na sacristia da Igreja de S. Carlos, em Castellazzo. As suas experiências e o seu estado de espírito, durante aquela "quarentena", conservaram-se até hoje com o nome de Diário Espiritual". Além disso, elaborou um esboço das Regras, destinadas a possíveis companheiros, aos quais chamava de "Os Pobres de Jesus". Em seguida, ao novo Instituto Paulo deu o nome de "Congregação da Paixão de Jesus Cristo", porque ele entende o serviço da Congregação como sendo o testemunho de uma vida virtuosa, na "conformação com Jesus Crucificado, de modo que o povo, pelo simples fato de ver um filho da congregação, seria levado a converter-se ou a perseverar no bem". Concluída a experiência, o Bispo autorizou-o a viver na ermida de Santo Estevão, em Castellazzo, e a realizar apostolado como leigo.

No Verão de 1721, viajou até Roma, no intuito de obter uma audiência Papal para explicar as luzes recebidas sobre uma futura Congregação. Os oficiais do Quirinale, onde residia o Papa, não o deixaram entrar, pois pareceu-lhes tratar-se de mais um aventureiro. Paulo aceitou a humilhação que o configurava a Jesus Crucificado e, na basílica de Santa Maria Maior, perante a Virgem "Salus Populi Romani", fez voto de se consagrar a promover a memória da Paixão de Jesus Cristo.


De regresso à sua terra, deteve-se um pouco em Orbetello, na ermida da Anunciação do Monte Argentário. Ao chegar a Castellazzo, encontrou-se com o seu irmão João Batista e, juntos, resolveram levar uma vida eremítica no Monte Argentário. Depois, a convite de Mons. Pignatelli, deslocaram-se para a ermida de Nossa Senhora, em Gaeta. Mais tarde, Mons. Cavallieri recebeu-os durante algum tempo, em Tróia, tendo regressado a Gaeta, mas, desta vez, para o Santuário da Virgem da "Civita", em Itri.